Esta aí algo que eu julgo importantíssimo admitir: somos feitos de matéria (carne), o mundo no qual vivemos é feito de matéria, o “plano” no qual vivemos é essencialmente material e, por mais que tenhamos recebido a imensa benção de Deus de poder vislumbrar o que está além disso tudo, o que não é material, temos que admitir que até mesmo a nossa consciência, por onde Deus se revela tanto à gente, só funciona por processos materiais em nossos cérebros (também materiais...).
Não quero com isso de forma alguma exaltar aqui o conceito bíblico de “carne”.
Por favor, estamos em outro nível...
Quando João em sua primeira carta diz: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.” (1Jo2:15), espero que fique claro para todos que essas palavras são figurativas e significam as vontades mais instintivas do homem diante de uma sociedade decadente em seus valores éticos e morais.
Na conjuntura de então, quando se havia perdido qualquer referência moral entre os homens, era preciso uma mudança de vida e que essa mudança fosse radical!
De tal maneira que era cabível a idéia de “se livrar” por completo de sua vida – simbolizada pelo “mundo”- para “renascer em Cristo” como o próprio João ensinou.
Hoje, ainda muitos seguem uma vida onde a mudança deve ser radical para se atingir o verdadeiro cristianismo. Os valores éticos e morais que permeiam sua criação são egocêntricos, desprovidos de compaixão e de amor ao próximo.
Não se anda em uníssono com Deus quando não se tem um verdadeiro amor ao próximo.
Se a família dessas pessoas não lhes deu essa base, a Igreja pode ser a comunidade que os acolherá e os fará provar do amor de Cristo. Têm uma segunda chance: a de renascer em Cristo!
Isso é algo maravilhoso e muito frutífero para a sociedade, para a vida e, principalmente, para essas próprias pessoas.
É perceptível, no entanto, que da maneira que isso vem sendo feito, há efeitos colaterais que eu julgo nocivos.
É muito claro o processo de “guetificação” que ocorre nas igrejas.
É ótimo conviver em comunidade com pessoas que compactuam dos mesmos valores que os seus e é natural que você queira optar por passar seu tempo com eles.
Até aí tudo está ótimo!
Mas nessa convivência começa a se estabelecer um abismo enorme entre a comunidade e o resto do mundo!
“Quando eu era do mundo...” não cessam de dizer os convertidos. E aí não poupam insultos ao “mundo”, como se a comunidade cristã estivesse numa outra dimensão.
Se a vida antes da igreja não conservou para essas pessoas boas lembranças, não é motivo para maldizer toda a estrutura social da qual eles são parte!
É claro que eu entendo que a expressão “do mundo” é simbólica.
Mas uma das premissas da simbologia é que deve se manter a consciência do seu caráter simbólico. Se o símbolo virar referência de realidade, estamos limitando a realidade ao curto horizonte do símbolo.
O pastor Ricardo Gondim diz em um de seus artigos:
“Os evangélicos ainda mantêm uma idéia preconceituosa sobre os efeitos do pecado na raça humana. Acredita-se que as pessoas são tão pecadoras que se deve manter distância dos “incrédulos”. Com essa visão de mundo, os crentes são inclinados a viver em guetos, e a grande missão da igreja resume-se em tirar gente do mundo e trazê-las para dentro das igrejas, único ambiente que se acredita pura na face da Terra. Essa visão descarta a compreensão de que, mesmo caídos, os homens ainda conservam a imagem de Deus. Significa que as pessoas que ainda não se converteram a Cristo, mesmo contaminadas pelo pecado, elas têm uma dignidade ímpar e podem ser honradas. Por isso, mesmo sem ser cristãos, médicos, juizes, escritores, poetas, músicos, políticos e policiais podem ter comportamentos e atitudes que são nobres e merecem a atenção de todos, inclusive dos crentes.”
Gosto muito dessas considerações do pastor Ricardo Gondim.
Os evangélicos tendem a entrar num rígido esquema maniqueísta e estão pouco preocupados com a essência das pessoas que não se declararem parte da comunidade evangélica.
O primeiro critério de julgamento é “é de Deus?” no sentido de “é evangélico?” porque já se for católico não vale.
Só se preocupam com elas enxergando seu potencial de se converter.
Só a partir daí é que passam a analisar a pessoa pelos seus valores.
Mas e Gandhi?!! Meu Deus do céu!!!
Gandhi era hinduísta e quem nos dera os “cristãos” que povoam nossas igrejas fossem tão cristãos como Gandhi o foi!
Está na hora de nos concentrarmos na mensagem de Deus!
E vos digo o seguinte: a mensagem de Deus trata exclusivamente de valores!!!
São os valores de Deus que Jesus veio nos trazer!
O que importa para o Pai é que sejamos imbuídos em nosso íntimo dos valores do amor, da bondade, da compaixão...
É, sobretudo, amar ao próximo! Amar incondicionalmente ao próximo assim como nosso Pai nos ama!
É andar pela rua em pleno centro da cidade e olhar para as centenas de pessoas que desfilam na sua frente como você olha para o seu irmão em casa, que você ama tanto.
Seja pobre, seja rico, seja feio, seja lindo, seja negro, seja amarelo, seja albino... Seja espírita, seja do candomblé, seja ateu... São nossos irmãos ora!!!!
Todos eles passam por momentos de tristeza, momentos de alegria, momentos de dúvidas...
Se, ao conhecermos eles, sentimos que falta amor em suas vidas, falemos a eles de Jesus!
Mas nos orgulhemos da capacidade de amor que essas pessoas, sendo da igreja ou não, têm!
Meu Deus do céu!!! Quanta segregação!!!
Evangélicos com discursos lindos sobre amor e respeito ao próximo mas que na hora de aceitar as crenças do irmão são intransigentes ao extremo!
Você quer espalhar a palavra de Deus, a palavra de Cristo?
Fale de amor! Fale de amor! Fale de amor!
O amor que Cristo nos ensinou!
E não se espante ao encontrar uma platéia que, mesmo não sendo evangélica, entende muito do assunto.
Do “mundo”?
Pois bem... Sou do mundo sim! Vivo nele, me encontro com Deus nele, e compartilho a vida com meus irmãos (aqueles meus amigos da igreja, as centenas de pessoas na Cda. Da Boa Vista, os mendigos com quem bato papo às vezes, meus pais,...)
Afinal de contas, Deus criou o mundo! O mundo é obra Dele! Absolutamente todas as pessoas são obra Dele e Ele as ama profundamente.
Se Ele, Senhor dos senhores, Pai da terra, as ama incondicionalmente, quem sou eu para emitir qualquer tipo de julgamento contra eles?
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
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Um comentário:
A Fé é um dom com o qual nem todos são agraciados. Ela (a Fé) está em nós, mas nem sempre conseguimos a encontrar lá dentro do nosso eu mais interior.
Vinte anos é a segunda idade dos “porquês”, outras idades virão e os “porquês” continuarão. Esse é o grande mistério da vida.
Parabéns pela Fé. Parabéns por querer transmiti-la neste blog. Continue caminhando na Fé, porque vale a pena.
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