(Junho 2006)
Certo dia, já no começo da noite, após quatro horas de prova no colégio, eu e minha amiga pegamos o terçeiro e último ônibus que nos levaria pra casa. Não era exatamente um ônibus. Era daquelas vans que trabalham com transporte público. Estava lotada! Era a hora de todos voltarem pra casa e tivemos que ficar em pé. Num dia de chuva, as janelas fechadas mantinham dentro do carro um calor sufocante. Entre estudantes, pedreiros e donas de casa, o ambiente cheirava a suor de um dia todo de trabalho.
Lá dentro, todos exaustos e absortos em pensamentos, ninguém falava. Só se escutava o zunzum do motor. A moça gorda (que estava sentada) provavelmente se preparava emocionalmente para, depois de um dia de trabalho, chegar em casa e cuidar de seus cinco filhos. O moço bigodudo pensava em sua vizinha que ele acidentalmente engravidara e agora não sabia o que fazer. O cobrador, que já tinha feito muitas viagens naquele dia, não via a hora de tudo isso acabar. Enfim... Todos refletiam sobre as complicações da vida e se perguntavam se, naquele momento, era realmente lá o lugar onde eles deviam estar. Pelo menos eu me perguntava isso.
De repente, de alguma maneira que eu nao sei como, uma borboleta entrou na van e foi direto pousar sobre minha amiga que, muito assustada, se debateu fazendo-a sair voando. A borboleta estava eufórica! Batia suas asas com a força de quem quisesse derrubar o mundo. E se mexia feito tonta, de um lado pro outro, forçando aquela gente toda a abaixar a cabeça a cada rasante que dava. Depois, de súbito, ela parava em algum lugar. Desconfiados, todos ficavam procurando com os olhos onde a danada se metera. A moça gorda a viu e quando fez menção de pegá-la, lá se foi de novo, inconseqüente, a mariposa a atrapalhar o juízo dos pobres trabalhadores. E sempre tinha o mesmo destino: minha amiga, que muito desajeitada ficava dando tapas ao vento na tentativa de afugentar aquele inseto engraçado.
A borboleta tinha se acalmado e estava parada nas costas da minha amiga. O cobrador começou então sua meticulosa operação de prisão. Todos acompanhavam, vidrados, as mãos do cobrador que iam, bem devagar, se aproximando do alvo. Todo mundo em silêncio, como que para não deixar a borboleta ouvir nenhum rumor sobre sua captura. E na hora do bote, lá se foi ela voando de novo, para desespero da minha amiga! Foi aí que o moço bigodudo abriu um sorriso. A moça gorda não se conteve e soltou logo uma gargalhada bem alta e gostosa! (Por sinal, os gordos têm uma facilidade infantil de se entregar ao riso que sempre me divertiu muito) E todos riram! Para todos os rostos que eu olhava, via estes risos singelos e contentes. Aí então, me peguei rindo também.
A vida tem desses momentos mágicos que surgem de repente para nos trazer felicidade e nos lembrar que ela é, na realidade, muito simples. Por aquele instante, vi todo aquele pessoal se desligar de seus problemas e se entregar ao encanto daquele momento que teria tudo para ser deprimente não fosse o coração simples das pessoas que com um episódio desses encontram sua força para seguir em frente.
Após mais algumas cambalhotas, a borboleta foi capturada e jogada pra fora do carro. E as pessoas voltaram aos seus pensamentos e aos seus problemas...
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
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2 comentários:
Adorei!!!
Eu acho que a vida não e tão complicada.
Bjs!
Excelente post. (:
*:
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